O MEU CASAMENTO COM O ZÉ - 2

Chegámos à Pensão do Passarinho. Tinham um quarto, mas sem casa de banho. O quarto era razoável: cama de casal, guarda-fatos, mesas de cabeceira, uma cadeira, e um estrado para a mala. O Zé desceu com um empregado para trazerem as malas. Eu fiquei encostada à janela, a olhar lá para fora sem ver, a pensar que não era assim, num quarto como aquele, sem casa de banho, que tinha imaginado a minha noite de núpcias. Saí dos meus pensamentos ao ouvir um estrondo. Ao colocarem a mala no estrado, este desmanchou-se todo, feito em pedaços. O rapaz lá apanhou os bocados de madeira, desfazendo-se em desculpas e saíu. Eu estava quase a chorar. Precisava de ir ao quarto de banho e saí de lá enojada. A banheira estava cheia de cabelos, e a retrete... Era uma pensão de camionistas, não se esqueçam! Só me apetecia sair dali a correr, dormir no carro ou debaixo da ponte!
Quando regressei ao quarto, o Zé percebeu tudo. Abraçou-me e disse uma coisa que nunca mais esqueci e que só aumentou o amor que sempre tive por ele, e admiração que senti: "Vais deitar-te e viras-te para um lado, eu deito-me e viro-me para o outro lado, descansamos, e amanhã cedo saímos para Nova Lisboa."
E assim foi. Cada um virado para o seu lado, dormimos e, logo pela manhã, partimos para Nova Lisboa, onde tínhamos o hotel marcado, com o quarto à nossa espera, todas as mordomias a que tínhamos direito, e onde, finalmente, consumámos o casamento. (continua)

O MEU CASAMENTO COM O ZÉ

Foi em 1968, em Março. Tempo de muito calor. Como o Zé morava em Benguela e eu no Lobito (30 kms de distância), decidimos casar na Catumbela, a 8 kms do Lobito. Por isso fui viver dez dias em casa de uns amigos, a fim de justificar o local. Nessa altura não se podia decidir por qualquer lugar que não fosse a freguesia da morada. Transposta esta dificuldade, pensámos no padre e acabámos por escolher, não o da Catumbela, muito nosso amigo, mas o dirigente da Casa do Gaiato (querido Padre Manuel António!), para não ferir a susceptibilidade dos padres de Benguela, grandes amigos do Zé.
O casamento foi como todos os outros, com a noiva a chegar atrasada. A diferença foi que o Padre Mateus (o Padre "Pipas", como  lhe chamavam por ser todo redondo e coradinho) tocou o orgão como só ele sabia.
Ninguém mais ouviu, mas o meu Pai, quando se chegou ao carro para me levar ao altar, só me fez uma pergunta: "Não estás arrependida?".Respondi "não", e o Pai disse:"Então, vamos!"
(Aqui tenho de dar uma explicação. O Zé era viúvo e tinha cinco filhos. O meu Pai gostava dele, mas tinha receio de que os meus futuros enteados não gostassem de mim. Daí a pergunta. Posto isto, vamos ao resto).
O copo de água foi no Tamariz, no Lobito, e tudo corrreu bem. Depois dirigimo-nos ao hotel onde estavam os meus Pais e irmãos, para trocarmos de roupa. E partimos, com grande ruído de latas que os meus colegas do liceu tinham atado na parte traseira do carro, enquanto estávamos nos quartos! Só na bomba de gasolina da Caponte é que o Zé concordou parar para tirar as latas, depois de termos atravessado toda a cidade!
O nosso itinerário era o seguinte: Lobito, Novo Redondo, Gabela, Cela, Nova Lisboa e Sá da Bandeira, e depois voltar a Nova Lisboa, para participarmos de uma reunião de professores de toda a província e que devia durar uma semana.
A viagem decorreu bem por Novo Redondo e Gabela, onde jantámos. O pior foi quando chegámos à Cela, onde tínhamos marcado o hotel, para passar a noite, com bastante antecedência. Como era domingo, o hotel estava cheio e não tínhamos quarto. Corremos os hotéis e pensões da Cela, que não eram assim tantos. Estava tudo cheio. Só havia um quarto na Pensão do Passarinho, geralmente utilizada por camionistas. (continua...)

George Clooney

A GJ desafiou-me: mostrar a foto em que estou de mão dada com ele e o Zé a querer
bater-lhe...


É tudo mentira! Foi tirada no museu da Madame Tussaud... Que ele é lindo, lá isso é.

DA IMPORTÂNCIA DE SER CRIANÇA

Devo dizer que tive uma infância feliz. Não éramos ricos, mas numa família em que havia cinco filhos, um tio da idade do meu irmão mais velho (criado pelos meus Pais, porque a mãe morreu pouco depois do parto), e outro tio da idade do meu irmão mais novo (os dois tios irmãos de minha Mãe) nunca tivemos falta de amor e carinho, e sempre comida na mesa. A roupa dos rapazes passava dos mais velhos para os mais novos, mas eu, única rapariga e a mais velha das primas, não tinha ninguém de quem herdar a roupa. Tinha três vestidos, um a vestir, outro a lavar e o terceiro a passar a ferro. No meio de tantos rapazes, era uma autêntica maria-rapaz, e o ar angélico da foto não mostra o muito que fiz passar à minha Mãe. Gostava de jogar futebol (era guarda-redes), batia os rapazes em corrida, trepava às árvores e aos muros, e tinha os joelhos alternadamente feridos. Ia para as aulas montada numa cana a fazer de cavalo (e tinha vários...), roubava a bicicleta do meu irmão mais novo e ia passear até ao farol (ficava perto de casa, cerca de 500 metros), e detestava os vinte canudos que a Mãe, embevecida, me fazia todos os dias. Um dia, o barbeiro foi lá a casa para cortar o cabelo aos rapazes. Assisti ao corte dos três primeiros e perguntei se também podia cortar o meu. -"Se a senhora deixar...", foi a resposta. Nâo quis ouvir mais. A correr, fui ter com a Mãe, distraída com qualquer problema da casa, e perguntei se podia cortar o cabelo. Disse que sim, sem perceber bem o que eu estava a pedir. Corri para a sala onde estava o barbeiro e disse: -"A minha Mãe mandou cortar por aqui!". O "aqui" é o que se vê na foto, para grande desgosto da Mãe, quando me viu. O cabelo cresceu e lá voltei aos canudos. Mas tive um ou dois meses de liberdade, embora tivesse de suportar o laçarote...
Acho que as crianças, actualmente, não sabem brincar como nós brincávamos, em casa ou na rua. Ninguém as deixa ir para a rua - nós não tínhamos trânsito e podíamos fazer as balizas com duas pedras no meio da rua, deixando o espaço para os jogadores correrem com a bola feita de meias velhas. Elas têm a play-station, a Wii, a Nintendo, o telemóvel e o computador, mas não criam os laços de camaradagem e de amizade, que perduram ainda hoje. Porque, para além do futebol e das corridas, todos nós (éramos cerca de vinte em Nova Lisboa, e cerca de quinze em Novo Redondo), rapazes e raparigas, brincávamos às escondidas, aos polícias e ladrões, fazíamos teatro, cantávamos, saltávamos à corda e jogávamos à "macaca", aos queimados, etc., etc. E o tempo de sermos crianças deixou uma marca indelével nas nossas personalidades.

O ZÉ FARIA HOJE ANOS

Faria, não! Faz, só que noutro lado, onde está a ver-nos e a pedir por nós, tendo encontrado a Verdade que sempre procurou e pela qual lutou. Neste momento, para mim, só existe uma saudade imensa e a certeza de que já não sofre mais.

PARA A MINHA NETA MAIS NOVA

Na última aula de pintura, pintei esta T-shirt para a minha neta mais nova. Gosto muito destes
desenhos de Somebunny to Love, que aparecem nas revistas de ponto de cruz. Estou a bordar um desenho muito engraçado com dois coelhinhos, para a colcha de uma recém-nascida. Depois de pronta, também farei um post.

                                                                

AS QUATRO ESTAÇÕES

Esta semana trouxe para casa mais quatro quadros, representando as quatro estações. Não sei ainda onde os vou pendurar. Parece-me um quanto egotista ter quadros meus por toda a casa, mas também não sei a quem os oferecer, já que têm de ser os quatro...  A ver vamos!
Para já, fica a satisfação de os ter pintado, e deixo-vos a apreciação.

Primavera                                                                       Verão

Outono                                                                         Inverno

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