Veneza

A propósito de um post visto num blog, recordei-me da minha visita a Veneza quando era finalista da faculdade. Não foi considerada viagem de fim de curso, como agora se faz. Aconteceu que a faculdade tinha uns dinheiros que perderia se os não gastasse e o nosso catedrático resolveu proporcionar uma viagem a uns quantos alunos. Éramos dois rapazes e seis raparigas, acompanhados por uma alemã que veio a Lisboa fazer o curso de português para estrangeiros e que regressou à Alemanha a fim de preparar as coisas para voltar como leitora de alemão.
Foi uma viagem de 33 dias, em que ela nos acompanhou até Frankfurt, onde estava o nosso catedrático, regressado de Goa, para nos acompanhar dali até Lisboa.

A nossa viagem começou de combóio até San Sebastian, onde passámos o dia, e, ao fim da tarde, apanhámos outro combóio, que nos levou a Verona, pelos Pirinéus, Côte d' Azur e Milão. Dormimos em Verona e fomos visitar a casa de Julieta, onde existe uma janela de balcão, relativamente baixa para o Romeu trepar até lá acima. Fiquei com a impressão de que a casa, porque corrrespondia à ideia que o povo tinha sobre ela, se tornou ponto obrigatório de visita, dizendo-se que pertencia à família dos Capuleto, pois ninguém nos mostrou a casa dos Montecchio. À tarde, partimos, novamente de combóio, para Veneza e chegámos ao pôr-do-sol.

Estávamos nós à espera do vaporetto, quando um grupo de soldados se colocou atrás de nós dizendo piropos. Ninguém no grupo falava ítaliano, embora soubéssemos algumas palavras, como gelatti Motta, prego, grazie tante e arriverdeci. Os soldados não se calavam. A certa altura, ouvi perfeitamente non capiscan nadie. Já farta de os ouvir, virei-me para trás e disse: Si, si, capisco! Os soldados olharam para mim, surpreendidos, e retiraram para longe de nós.

De vaporetto chegámos à Praça e levámos as malas para um hotel engraçado, ligeiramente barroco, mas confortável. Ao jantar, passou-se uma cena engraçada, que nunca mais esqueci.

A nossa acompanhante alemã tinha sido contratada para nos fazer desenvolver a conversação em alemão, mas o que ela queria era aprender português, pois sabia que voltava a Lisboa. Ora ela não tinha percebido os plurais de -ão. Foi a uma das mesas e perguntou o que estávamos a comer. Uma de nós disse que eram feijões. Foi a outra mesa e disse: Os feijões estar muito bons. Logo outra se espantou: Feijões? Não. São feijãos! Perplexa, dirigiu-se a outra mesa:
Os feijãos estar muito bons. Foi corrigida de novo: Não se diz feijãos. É feijães. Completamente baralhada, evitou empregar palavras terminadas em -ão.

No dia seguinte, fomos, então até à Praça, visitámos a Basílica e subimos ao campanário.A vista é deslumbrante lá de cima! Andámos de gôndola, visitámos Murano. O nosso romantismo considerou a Ponte dos Suspiros o máximo, embora nos dissessem que eram os suspiros dos condenados. Enfim, andámos a pé por onde nos apeteceu e terminámos na Praça de S. Marcos.

Já ao cair da noite, regressámos de vaporetto à estação de caminho de ferro, e apanhámos o combóio para a Áustria. Mais tarde, falarei dessa parte da viagem.


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