Livros

Aprendi a ler com quatro anos e tudo por causa do vinho Gatão. A garrafa era de cerâmica e retratava um gato de botas e chapéu à mosqueteiro, que tinha uma garrafa na mão (na pata). esta garrafa tinha um gato com uma garrafa na mão, que tinha um gato com uma garrafa na mão. Adorava aquela garrafa. Um dia, deram-me papel de seda e um lápis e eu tratei de copiar o rótulo da garrafa. Aconteceu que, naquela tarde, acompanhei a minha Mãe numa visita a casa do intendente. Ele tinha quatro filhas e a terceira gostava de ensinar e tinha alguns alunos particulares. Na minha terra, fora a escola primária, não havia mais nada e a Maria Alice era a professora. Mostrei o papel, toda ufana e disse: -"Vês, já sei escrever!" A Maria Alice achou graça e pediu à minha Mãe que me deixasse ir lá para casa para aprender. E passei a ir, todas as tardes e aprendi a ler e a fazer contas de somar e subtrair. Por esse motivo, quando entrei para a primeira classe (agora primeiro ano do ensino básico), aborreci-me imenso até aprender a fazer contas de multiplicar e dividir porque já sabia aquilo tudo... Voltando aos livros. Sempre gostei muito de ler e, quando ia a casa de outras miúdas para brincar, elas escondiam os livros porque eu me agarrava ao primeiro que apanhava e não ia brincar enquanto não acabasse. Lembro-me de que, quando fiz sete anos, a minha Mãe me ofereceu dois livros da Condessa de Ségur: o Evangelho de uma Avó e Férias. Depois, pouco a pouco, foi formando a minha pequena biblioteca e tive todos os livros da Condessa. Os meus Pais sempre gostaram de ler e incutiram esse hábito aos filhos. Tinha eu dez anos quando o meu Pai me disse: - Não mexes nestas duas prateleiras mas podes ler tudo o que está nas outras." Foi assim que li As Pupilas do Senhor Reitor, um livro enorme, encadernado, com gravuras do Bordalo Pinheiro. Depois, foi a vez de Os Fidalgos da Casa Mourisca e dos outros livros de Júlio Dinis. Mas eu, que fui sempre aventureira, gostava de ler Júlio Verne e Emílio Salgari... E as aventuras do Capitão Morgan, que eram vendidas em fascículos, faziam com que eu desejasse ser pirata para cruzar os mares como ele! Os livros andam sempre atrás de mim. Quando estive refugiada na África do Sul, deixando toda a minha biblioteca em Angola, fiz-me sócia de uma biblioteca de bairro e ia lá buscar os livros que mais me interessavam. Aqui, em Portugal, já tenho uma biblioteca de mais de três mil títulos. Tenho pena que os miúdos de agora não gostem muito de ler. A televisão e o computador roubam-lhes o tempo todo e não sobre nada para a leitura...

1 comentários:

fugidia 16 de novembro de 2007 às 21:03  

Gostei muito de ler este post!
Gostei mesmo!
:-)

Visitas

Outros Sonhadores

Pesquisar