Recordações V

Fui sempre maria-rapaz. A minha Mãe lamentava-se porque sempre quis ter uma filha e eu queria ser rapaz. Também, com quatro irmãos e dois tios ( que os meus pais criaram connosco) como é que eu podia ser uma "menina"? Gostava de andar de bicicleta, de trepar a árvores e muros, de jogar futebol (fui guarda-redes...), de fazer corridas com os rapazes (que eu geralmente ganhava), e de ir para a escola montada numa cana, a fazer de cavalo. A minha Mãe chamava lá para casa a minha prima Ana (sua afilhada), para estarmos juntas e aprendermos a bordar, coser, passajar, passar a ferro, fazer bolos, tudo "prendas " que uma menina devia ter, já para não falar na escola, porque devíamos aprender para termos "uma enxada" no futuro. Devo dizer que só comecei a gostar de bonecas, já tinha quinze anos! Ainda hoje a Ana fala da minha Mãe com saudade porque a tornou uma grande dona de casa. Eu fui estudar, a Ana não quis continuar. E fui para o Colégio das Doroteias, interna, e, mais tarde, vim para Lisboa tirar um curso universitário, a minha "enxada". É engraçado como a vida dá tantas voltas... Estive com a Ana há cerca de um mês, desta vez não para um funeral (que é onde nos encontramos quase sempre), mas para festejarmos os 90 anos da Tia E. E foi uma alegria estarmos juntas (estavamos 4 primas, uma tia da nossa idade, e duas primas em segundo grau). Parecia que o tempo faltava para pormos toda a conversa em dia! Creio que não o fizemos, pois, nestas festas, falamos um bocadinho com uma, logo a seguir com outra, e a conversa fica sempre incabada. Mas foi bom!

3 comentários:

fugidia 15 de julho de 2007 às 19:45  

Caríssima,
e afinal, tornou-se (ou não) uma boa dona-de-casa?
;-)

Sol e Lua 16 de julho de 2007 às 10:56  

Não, nunca fui nem nunca serei. os ensinamentos ficaram na memória, mas a prática deixa muito a desejar. Gostava de ter sido melhor.

fugidia 16 de julho de 2007 às 13:17  

:-)

Deixe lá; há coisas muito mais interessantes para fazer!

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