O MEU CASAMENTO COM O ZÉ - 3

(Regressada de uma viagem de duas semanas a Myanmar - Birmânia ou Burma - depois de pôr os sonos em dia, e passados os efeitos do jet lag, vou contar o que falta deste casamento que durou 40 anos...)


Passámos mais dois dias em Nova Lisboa e seguimos para Sá da Bandeira, instalados no Grande Hotel da Huíla. Demos grandes passeios pelos arredores, que são lindos, e assim gozámos a nossa lua de mel.
O regresso a Nova Lisboa foi deveras tormentoso. Chovia imenso e o carro, um BMW emprestado pelo padrinho de casamento do Zé, era muito baixo, razão por que, a certa altura, não andava mais. Debaixo de chuva, o Zé viu-se na necessidade de tirar uma chapa que havia debaixo do motor e acumulava lama, o que impedia a progressão. Dei-lhe um impermeável de plástico, às bolinhas azuis, que ele estendeu no chão para se meter debaixo do carro e desaparafusar a dita chapa. Feito isto, e deixado o impermeável na berma (!), seguimos viagem por uma estrada em construção, debaixo de um dilúvio, e com o coração nas mãos, com medo de nos atolarmos ou de partirmos qualquer peça do carro...
Chegámos a Nova Lisboa já de noite. Foi o tempo de pôr as malas no quarto, tomar um banho, e seguir para a sala de jantar, onde se encontravam os restantes professores. A reunião não teve história, até ao dia em que devíamos regressar. O carro, que tinha estado parado, começou a andar, engasgou-se e recusou andar mais. Felizmente, havia uma oficina muito perto e foram buscar o veículo para o arranjar.
Andámos a passear a pé por Nova Lisboa e fomos buscar o carro às cinco horas. Partimos em direcção à Cela, e passados uns cinquenta quilómetros, já a escurecer, tive de gritar ao Zé porque ele não estava a ver uma brigada de trânsito, parada na berma, a mandar estacionar. O polícia teve de dar um salto para o lado e dirigiu-se, com o ar imponente da autoridade que esteve quase a ser atropelada, para o lado do Zé, pedindo os documentos, com voz importante. Assim que começou a ver, à luz da lanterna, exclamou: "Olha! É da minha terra! É meu patrício!" Quem havia de dizer que, ali, no meio de uma estrada, à luz de uma lanterna, o Zé e o  polícia tinham nascido na mesma terra do norte de Portugal. Depois de uma grande conversa entre os dois, seguimos viagem e chegámos à Cela onde, sem qualquer marcação, arranjámos quarto no hotel que não o tinha guardado no dia do nosso casdamento.
No dia seguinte, o carro apresentou-se com pouca vontade de andar e teve de voltar a uma oficina, para seguirmos para Novo Redondo, onde chegámos perto da hora do almoço. Os meus Pais tinham levado com eles dois dos meus enteados e tivemos de preparar as coisas para, ainda com dia, seguirmos com eles para Benguela. O carro chegou ao Quicombo e negou-se, definitivamente, a andar. Como passou uma camioneta, pedi boleia e fui com a pequena até casa dos meus Pais. Pouco depois chegavam o Zé e o filho, pois um dos meus irmãos ia a passar e levou-os. Depois do jantar, o meu Pai chamou um taxi e lá nos acomodámos para seguir. O Zé sentou-se à frente, e eu atrás com os pequenos. A meio do caminho, embrenhados em grande conversa, nem o motorista nem o Zé viram uma pedra enorme e o carro passou por cima, partindo não sei o quê. O que sei é que o carro só andava em primeira pois as outras mudanças não entravam. Quando chegámos à Catumbela era quase meia noite. Como os meus padrinhos tinham guardado o meu Mini, subimos o morro a pé pois o taxi não o podia fazer. Ao chegarmos lá acima, os meus padrinhos tinham acabado de chegar a casa, mas, para desilusão nossa, já tinham levado o carro para Benguela. Voltámos a descer e lá seguimos, sempre em primeira, até nossa casa. Ainda tive de fazer as camas dos pequenos, pois a amiga encarregada de o fazer se tinha esquecido. Deitámo-nos perto das duas da manhã. No dia seguinte começámos a nossa vida, e assim terminou uma lua de mel bastante agitada.

4 comentários:

Lina Arroja (GJ) 22 de novembro de 2010 às 19:40  

Ó Dreamer, que lua-de-mel acidentada...;)
Imagino que depois de tanta agitação só poderia ter iniciado uma vida mais ou menos igual, a começar pela filharada que já vinha com o noivo.
Os 40 anos que se seguiram devem ter sido tudo menos pasmados.Que bom para si e para quem tem vivido consigo.:-)

PS: Fico à espera que nos conta esta sua viagem recente.

Luísa A. 23 de novembro de 2010 às 20:55  

Agitadíssima, Dreamer! Mas são essas luas-de-mel que deixam memória. E casal que lhes «sobreviva», sobrevive a tudo! ;-D

fugidia 24 de novembro de 2010 às 07:12  

Safa!
Credo!!
caramba!!!
:-D

Mike 28 de novembro de 2010 às 12:57  

Dreamer, consegui pôr a leitura em dia (ou mais ou menos) pela blogosfera e gosto de ler o seu casamento com o Zé. Sorri com a agitação da lua de mel. Ja a Fugidia... hum... não ligue, deve ser uma "miss perfection"... (risos)

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