O nosso cão


O nosso cão era um rafeiro sem pedigree. Viveu connosco 17 anos, sempre leal, dedicado e amigo.
Por ter nascido no dia 23 de Abril (nascimento e morte de William Shakespeare), chamou-se William; porque o Zé teve um cão chamado assim, ficou Kurisko, e porque eu tive um cão chamado J.Fernandes Kibala Júnior, o seu nome completo era William Kurisko Fernandes Kibala Júnior. O cão foi oferecido à S. como presente pela passagem de ano. Ela queria um gato mas, como tinha asma, o Zé preferiu dar-lhe um cão. O Kurisko foi logo ensinado a não fazer nada em casa e aprendeu depressa que iria à rua três vezes por dia, a saber que tinha a sua refeição diária depois do último passeio, e que tinha um sítio certo para dormir. O cão tinha raiva a fardas (polícias, operários, bombeiros), a cobradores e a tudo o que fosse escuro (fossem meias, pernas, ou calças). Sabia defender-nos e atirava-se a cães maiores do que ele. Hoje vou só contar uma história dele, e, de vez em quando, falarei mais.
A minha Mãe tinha partido o colo do fémur. Chamei os bombeiros para a levarem para o hospital. O Kurisko dormia junto da cama da minha Mãe. Quando viu os bombeiros a levantá-la para a pôr na maca, atirou-se a eles, muito zangado, e foi um trabalhão para o afastar. Durante os dias em que a Mãe esteve no hospital, o Kurisko não se afastava da cama e pode-se imaginar a satisfação que mostrou quando a trouxeram de volta. Um mês depois, o Zé e eu fomos passar uns dias fora e a Mãe ficou em casa com a minha filha I. A Mãe resolveu levantar-se às escuras e ir pelo corredor até à casa de banho, sem acordar a neta. Caíu, por falta de apoio. Pois o Kurisko levantou-se da sua cama, andou à volta dela e, como não podia fazer nada, foi acordar a I. lambendo-lhe a mão. Enquanto a I. ajudava a Avó, o cão saltitava em volta como quem diz "Fiz bem, não fiz?"
P.S. - Em aparte, devo dizer que, criança ainda, tinha medo de qualquer cão. Se via um ao longe, trepava pela minha Mãe. Foi por isso que nos deram , a mim e ao meu irmão mais novo, o Kibala.
Não tenho mais medo de cães pequenos, mas continuo a temer os grandes...

2 comentários:

Anónimo 8 de janeiro de 2010 às 22:35  

Falta contar que depois da avó voltar o Kurisco a seguia para todo o lado, montava guarda à porta e "refilava" quando a levávamos ao WC ;-)

Bjos, adorei a história

:-)

Lina Arroja (GJ) 25 de janeiro de 2010 às 19:47  

Sabe que o meu filho mais velho também nasceu a 23 de Abril e que adora cães?
Gostei muito de a ler.:-)

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