Quando eu era pequena não gostava de maçãs. Não sei a razão, mas torcia sempre o nariz quando a minha Mãe me obrigava a comer alguma. E assim fui crescendo até aos dezoito anos. Estava a estudar em Lisboa, em casa da tia I. e passava as férias grandes em casa dos meus avós paternos, em Viseu. E continuava a não gostar de maçãs.
Um dia, a tia I. foi buscar-nos a Viseu (a mim e ao meu irmão mais novo), e comprou maçãs Bravo d'Esmolfe. No combóio, o perfume das maçãs espalhou-se no compartimento. Ao chegarmos a casa, ajudei a arrumar as maçãs e a cozinha ficou inundada com aquele aroma. No dia seguinte, não resisti e decidi provar uma maçã. Era relativamente pequena, de cor esbranquiçada, com um leve tom avermelhado. Dei uma dentada, e fiquei rendida à polpa macia, doce, agradável.
Nunca mais deixei de comer maçãs, primeiro só as de Esmolfe, depois as outras variedades, em que prefiro as Royal Gala.
Estava hoje a comer a minha maçã Bravo d'Esmolfe, quando me veio uma saudade enorme daqueles tempos em Viseu, em que vestia umas calças "à pirata" para andar à vontade na quinta e a minha Avó não me deixava sequer chegar ao portão, porque estava de calças...
Também me lembrei do espanto da minha Mãe, quando veio de licença graciosa com o meu Pai, ao ver-me comer maçãs com tanto entusiasmo.
O que faz um aroma!