VIAGEM A MYANMAR 4

3 de Novembro - Fomos acordadas por fortes pancadas na porta. Enquanto a F se levantava para ver o que se passava, olhei para o relógio: eram oito horas! Vinham dizer-nos que estavam todos no autocarro à nossa espera! A recepção esqueceu-se de nos chamar e nós, fiadas nessa chamada, não acordámos.
Foi uma correria para nos lavarmos (à gato...) e vestirmos, para descermos a escada a correr e chegar à entrada do hotel, onde já não estava o autocarro. O gerente, com ar de arrependido, pediu muita desculpa por se ter esquecido, meteu-nos num jeep, e conduziu-nos até ao sítio onde estava o autocarro.
Sem pequeno almoço, como fomos visitar um mercado de rua, a pé, comprei água e uma penca de bananas, embora explicasse que só queria meia dúzia. Que não, que ou levava a penca com dez bananas ou não levava nenhuma. Paguei e fui para o autocarro comer duas bananas e beber água, com a F a fazer  o mesmo...
O mercado de rua era um espectáculo: mulheres a vender toda a espécie de legumes, peixe e carne, sobretudo frangos, numa rua estreita e bastante enlameada. Seria tudo muito bonito, se não fossem as moscas: eram aos enxames, poisando em cima de tudo, e afastadas preguiçosamente  pelas vendedeiras, que não estavam muito preocupadas com as ditas moscas. Pareceu-me que estas faziam parte da venda, de tão habituadas que estavam com elas. Como estivemos a comer as bananas, não tirei fotografias, mas visitámos tantos mercados, onde fotografei, que a ideia aparece mais à frente. Depois ofereci o resto da penca ao motorista.

Em seguida levaram-nos a um cais, onde entrámos num barco que nos levou até Mingun. O barco tinha um toldo e cadeiras de repouso, para disfrutarmos da vista do rio Ayeyarwady. Por entre o arvoredo víamos as stupas, brancas ou douradas, brilhando ao sol, lembrando que estávamos em terras de budistas.

Perto de meia hora depois, apareceu uma birmanesa, seguida de um ajudante, que transportava uma mesa. Em poucos minutos, tinham montado uma venda de longhys, pulseiras, chapéus, colares, etc., que começaram por ser observados , mas, em breve, a ser comprados pelos elementos do grupo.

Fez bastante negócio! Os birmaneses gostam que se regateie, mas, nessa altura ainda não sabíamos, e não nos aproveitámos da ocasião...

Finalmente, atracámos na margem do rio. Os homens colocaram uma prancha, que ia do barco à lama, e depois umas pedras para não nos atascarmos. Depois, agarraram num bambú comprido, (um subiu para o barco e o outro ficou na margem), à maneira de corrimão.
Descemos um a um, muito devagar, que a prancha era estreita e balançava...

Este era um “táxi”, e até tinha a palavra escrita na cobertura...

Assim que pisávamos terra (lama!), éramos rodeados por enxames de adolescentes, que procuravam vender as suas mercadorias. Eu fui ajudada por uma mocinha, que só me dizia “Doucement”, enquanto me dava o braço, me abanava com um leque e me mostrava onde devia pisar.
Seguimos por um caminho de terra e fomos dar com um par de grandes chinthe, divindades guardiãs meio leões, meio dragões, que tinham sido feitos em tijolo, mas que, devido ao terramoto, ficaram bastante estragadas e já não se percebe o que eram.

                                                    Foto tirada pela F.B.
Mingun é o sítio em que o rei Bodawpaya quis construir um pagode em tijolo, mas morreu em 1819, antes de ficar concluído. O pagode seria o maior do mundo. Em 1838, um terramoto reduziu o pagode a escombros: é, talvez, o maior monte de tijolos do mundo. Cada lado da enorme base mede cerca de 75 metros, e o terraço mais baixo mede 140 metros. Apesar do estado em que está, tem de se ir descalço e subir umas escadas bastante empinadas, razão por que não subi e fiquei sentada à sombra.

 


Ali à volta havia barracas com venda de T-shirts, quadros pintados, e um telheiro de comes e bebes.



 
Reparem no tamanho desta árvore!

Com calor intenso, fomos ver um sino de bronze, que o rei Bodawpaya mandou fazer, e que era para ficar na stupa do pagode destruído. Pesa 90 toneladas e é considerado o segundo maior do mundo. O maior fica em Moscovo, mas está rachado. O sino de Mingun reclama ser o único deste tamanho que não está rachado.


As pessoas podem entrar para debaixo do sino e ouvir o som, sempre  que alguém bate nele. Resta dizer que não entrei...

Em frente do sino, do outro lado da rua, fica um hospício budista, gratuito, e destinado às  pessoas da terceira idade, sem parentes e que não conseguem sobreviver. Os birmaneses têm um grande sentido de família.

Dali, fomos visitar o pagode Hsinbyume, construído pelo rei Bagyidaw em 1816. Supõe-se que é uma representação do pagode Sulamani, que, de acordo com a representação budista do cosmos, fica no monte Meru, montanha que está no centro do universo.

Comprei uma blusa à mocinha, que continuava a abanar-me, e me acompanhou até ao sítio em que havia mais sombra. Voltei ao telheiro dos comes e bebes e sentei-me à sombra a beber água de coco, directamente do coco, que me soube muito bem!

Regressámos ao barco, rodeados de raparigas, que tentavam vender mais umas coisas, e voltámos a caminhar pela prancha. O barco partiu e nós almoçámos no deck inferior. A senhora da venda também era cozinheira e serviu-nos uma refeição abundante, mas picante.

Chegámos a Mandalay e fomos visitar um novo mercado. Aqui, a oferta era grande, mas vou deixar algumas fotos, para poderem apreciar.










Àquela hora, o trânsito era bastante intenso, mas não resisti a fotografar esta família. E até usavam capacete!


Voltámos ao autocarro para visitarmos o palácio real. O original foi destruído na Segunda Guerra Mundial. É um complexo com árvores e edifícios vermelho e dourado, reconstruídos nos anos 90, guardados por uma muralha extensa e por um fosso.

O palácio original era uma cidade murada dentro da cidade de Mandalay. Foi a morada de dois reis birmaneses: Mindon Min, que o mandou construir em 1857, e Thibaw, que ali viveu até os ingleses tomarem a cidade e o terem expulso e feito prisioneiro “domiciliário” na Índia. Depois, os ingleses usaram o palácio como casa do governador e Club Britânico. Depois, os japoneses conquistaram Mandalay, e, em 1945, com o avanço de tropas britânicas e indianas, , no meio de uma luta feroz, o palácio foi destruído por um incêndio e só ficaram as muralhas e o fosso. Dentro deste complexo, mas não visitável, está o túmulo do rei Mindon. (O rei Thibaw mandou deitar abaixo os aposentos do rei Mindon, e fez contruir um mosteiro em teca que, infelizmente, também ardeu).

Nesta foto podemos ver Kuthodaw Paya, o “maior livro do mundo”, pois contém 729 tábuas de mármore, que reproduzem os 15 livros do Tripitaka. Formou-se uma comissão editorial de mais de 200 membros para fazer as tábuas originais. Pensa-se que uma leitura de oito horas diárias, levaria 450 dias para ler todo o “livro”. O rei Mindon convocou o 5º Sínodo budista e usou uma equipa de 2400 monges para ler todo o livro por turnos, sem paragens, durante seis meses! Há uma tábua (nº 730) que conta como foi a construção.


Cada tábua está alojada na sua stupa branca.

                                                  Esta é a maquete do conjunto, chamado o “maior livro” do mundo.

Ao sairmos dali, fomos levados até ao sopé da colina de Mandalay, onde passámos para pequenas camionetas, que nos transportaram até uma escada rolante, que nos levou a outro pagode. (Desta vez, os sapatos ficaram nas camionetas). Lá em cima há uma vista panorâmica: para este, o contorno azulado das colinas Shan, o palácio de Mandalay e a cidade para sul, e o rio Ayeyarwady para oeste...


... e um magnífico pôr-do-sol, a que a foto não faz justiça. O sol põe-se às 5,20h.



A descida, na camioneta foi tudo menos tranquila. O veículo não tinha um dos faróis e desceu todas aquelas curvas a buzinar para obrigar os outros a sair da frente, nós sacudidos como sacas de batatas, e o ajudante, imperturbável, pendurado só com um pé e agarrado só com uma mão a um lado da camioneta, dizendo adeus aos amigos, que ultrapassávamos.

Fomos levados ao hotel, para descansar e banhos, e, às sete e meia, fomos levados a um restaurante para jantar e assistir a um espectáculo de marionetas. No começo, apresentou-se uma mocinha que fez habilidades com bolas, uma verdadeira “Ronaldinha”.


O teatro de marionetas conta uma história da tradição birmanesa.

Foto da F.B.

Voltámos ao hotel, com a promessa de sermos acordados a horas. (continua)











VIAGEM A MYANMAR 3.1

Depois do almoço, entrámos em três camionetas, e seguimos por uma estrada toda às curvas, para irmos visitar um mosteiro no alto de um monte.


O mosteiro é uma escola. A educação, em Myanmar, é obrigatória até aos dez anos, e há duas espécies de escolas: as públicas (do governo) e as dos mosteiros budistas. Nas escolas públicas, os garotos têm uniforme: saia ou calça verde e camisa ou blusa branca. A maioria dos pais prefere pôr os filhos nos mosteiros porque o ensino é gratuito, e não tem dinheiro para comprar o uniforme. Não entrámos numa escola pública. Apenas assistimos à saída dos alunos. Mas, neste mosteiro, deixaram-nos fotografar as aulas e os miúdos. Rapazes e raparigas andam de cabeça rapada e só se distinguem as meninas porque têm um manto rosa em volta dos ombros. Os rapazes andam de túnica cor de chocolate, como os monges.

“Sala” dos mais pequenos. Na verdade, é um telheiro. O professor entoava uma frase e eles repetiam em coro, embora me pareça que nem todos estavam atentos.


Também havia quem dormisse a sono solto, apesar do barulho. O professor até tinha um garoto ao colo, que dormia seraficamente.


As outras classes são ministradas no edifício principal, em salas com grandes janelas abertas. Os garotos deixam-se fotografar, mas depois querem ver como ficaram...











Este "reguilinha" fez questão de ser fotografado a fazer o sinal da paz e, depois de ver o resultado, apertou-me a mão com ar muito importante.

Depois do mosteiro, que foi uma visita bastante interessante, fomos visitar outro pagode. A paisagem que dali se avista é deslumbrante.







A F. e eu não entrámos no pagode, porque não nos apeteceu tirar os sapatos, e porque se via de fora  mais um Buda sentado. Ficámos à sombra a apreciar a paisagem e a brincar com dois gatinhos, que andavam por ali.


Daqui fomos visitar uma olaria: um telheiro, crianças a brincar, e mais uma indústria familiar


A mulher do oleiro a fazer uma vasilha. É tudo artesanal, mas tem um certo encanto a maneira de trabalharem o barro e de o bater para criar desenhos.


Esta é uma das filhas a mostrar as suas habilidades para transportar vasilhas...



Nesse dia, ainda fomos visitar uma oficina de objectos em prata. Começam com um bloco de prata que é batido depois de quente e, finalmente...


...transformado em peças muito bonitas.


Esta peça ainda estava a ser feita e o trabalho é demorado e minucioso.

Só então fomos levados para o hotel, um resort muito bonito, cheio de flores e árvores, dividido em pavilhões com quatro quartos, cada, dois em cima e dois em baixo. O nosso quarto era grande, com frigorífico, e uma espécie de sala de estar, casa de banho muito moderna, e fresco, devido ao ar condicionado.

O jantar foi num restaurante Thai, e toda a gente se retirou para os quartos, a fim de descansar de um dia tão cansativo, com o despertar marcado para as sete horas e a partida para as oito horas. (continua)








VIAGEM A MYANMAR 3

2 de Novembro – Depois do pequeno almoço (5 da manhã!) fomos para o aeroporto, e seguimos para Mandalay, onde chegámos às 8,30h. Do aeroporto seguimos de autocarro para Ava. Cercada de rios e canais, Ava ou Inwa serviu de capital do reino birmanês durante cerca de 400 anos, mas que agora apenas atrai turistas. Andámos a pé pela povoação, formada por casotas de bambú entrançado, só com buracos a fazer de janelas, pedras a fazer de fogão, e poças de água suja, onde lavam os utensílios de cozinha e a roupa.


Os homens vestem calças e camisas à ocidental, ou a saia comprida, também chamada longhy. Nos pés usam chinelas género havaianas, e .as mulheres usam a saia comprida com uma blusa solta. São as mulheres que fazem os trabalhos das estradas em reparação, supervisionadas por um ou dois homens. São elas que partem a pedra e a colocam na terra. Pode ser que sim, que os homens também trabalhem, mas só vi mulheres a trabalhar nas estradas, com chapéus de bambú, lembrando-me um pouco as mulheres alentejanas, com as devidas distâncias.

Ao longo do rio, vimos um mosteiro que não visitámos. Mas a paisagem era linda...


A Chaw Chaw anunciou que íamos dar um passeio de caleche. Já rodeados de rapazes e raparigas, que pretendiam vender-nos postais, colares, pulseiras, etc., dirigimo-nos para a fila das "caleches".

Duas pessoas por carroça, em bancos de madeira bem duros, e numa estrada cheia de buracos, que nos faziam saltar e bater com a cabeça no tecto, e com os condutores a fazer corridas uns com os outros. A nossa carroça foi a última a partir, e, após a primeira paragem, já íamos no meio, e acabámos entre as três primeiras.

Assim que partimos, os rapazes e raparigas saltaram para bicicletas e seguiam as carroças, tentando vender os seus produtos.

A primeira paragem foi numa “fábrica” (que não passava de um telheiro) de paredes e telhados de bambú, cortado à mão. Os entrançados fazem desenhos geométricos bastante originais.


Em seguida seguimos por uma estrada (diria caminho) enlameada e ainda mais esburacada até ao mosteiro Bagaya Kyaung, todo em teca.
Todo o mosteiro é suportado por 267 postes de teca. O maior mede 60 pés de altura e 9 pés de diâmetro. Lá dentro, uma semi obscuridade deixa-nos mais frescos depois do calor abrasador lá fora. Encontramos as imagens do Buda...


...e também vimos alguns noviços a aprender com o mestre.

O mestre está sentado num banco baixo e os discípulos estão deitados no chão, a escrever nos cadernos. Mas também havia dois gaiatos, sentados numa carteira.



Os dois arrulhavam entre si, indiferentes aos turistas que os fotografavam. O da camisa vermelha olhou para a máquina, mas logo desviou o olhar para continuar a brincar com o outro.

Trepámos para as carroças para voltar pelo mesmo caminho, sempre perseguidos pelas bicicletas, e fomos visitar Nanmyin, uma torre de vigia, - a torre inclinada de Inwa -, resto de um antigo palácio. A parte superior foi destruída pelo terramoto de 1838 e o resto ficou inclinado numa posição um pouco periclitante.


Depois, ainda nas carroças, fomos visitar um mosteiro em tijolo, o Maha Aungmye Bonzan.


Este mosteiro, ao contrário dos que eram construídos em madeira e se deterioravam com os elementos ou eram destruídos por incêndios, foi construído em tijolo e pedra, o que lhe garantiu longa vida. Foi destruído pelo terramoto de 1838, mas uma das esposas do rei Midon  mandou que o restaurassem.

O almoço foi num restaurante agradável, com as mesas arranjadas de maneira original.



Tenho de parar por aqui, pois o post já vai longo. Foi um dia muito comprido e parecia não ter fim. Reparem que ainda estamos no almoço... (continua)


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