VIAGEM A MYANMAR - 2

31 de Outubro - De acordo com o programa, deveríamos ir para o hotel Yangon, mas fomos levados para o Asian Plaza Hotel, no centro da cidade. Na recepção, empregadas graciosas serviram-nos sumos de laranja ou coca-cola, enquanto a Chaw Chaw nos fazia uma prelecção sobre o dinheiro birmanês: 1 € é igual a 1000 kyats (ler xiats). Cada um recebeu cem mil kyats em troca de cem euros ou 137 dólars. Na prática, mil kyats eram iguais a um dólar. Deram-nos meia hora para pôr as malas nos quartos, nos refrescarmos e mudarmos de roupa. O calor era bastante forte e estavamos vestidos para o outono europeu, já bastante fresco. O hotel tinha dois elevadores panorâmicos, mas o quarto que nos calhou, a mim e à F, embora grande, tinha muitos defeitos: fios à mostra, ar condicionado bastante barulhento, e outros de que não vale a pena falar. Descemos e fomos no autocarro até um restaurante para o almoço de comida indiana. Começo já por dizer que, durante catorze dias, comi arroz e banana, às vezes um doce e às vezes melancia. A comida era sempre muito picante, fosse ela indiana, tailandesa, birmanesa ou chinesa. Havia sempre sopa, legumes, frango, peixe às vezes, e o arrroz branco. Uma garrafa de água de um litro custava 500 kyats (50 cêntimos). Nos dois primeiros dias cheguei a beber quatro litros de água!
Depois do almoço visitámos a cidade, admirando, mais uma vez, as avenidas largas, as casas coloniais, e as muitas árvores, buganvílias, bambús, palmeiras e coqueiros, que lhe dão um ar de frescura. E chegou a primeira visita: o pagode Chaukhtatgyi, que abriga um Buda deitado com 62 metros de comprimento. E ali a primeira surpresa: em qualquer pagode, mesmo em ruínas, tem de se entrar de pés nús, sem sapatos ou meias. O mais curioso é que ninguém mexe nos sapatos, que ficam arrumados à entrada. E isto aconteceu do primeiro ao último dia.


                                                     Pés nús, é a ordem.

Esta estátua gigantesca é considerada uma das mais belas das estátuas reclinadas do Buda, e tem uma coroa incrustada de diamantes e outras pedras preciosas. Repare-se na proporção entre o braço e o monge que está a limpar a estátua.

Nos pés do Buda estão inscritas as suas leis para se chegar ao Nirvana



Esta é outra imagem do Buda, no mesmo pagode. Geralmente, as imagens têm os lábios pintados. O Buda está em posição de repouso, o que é indicado pelos pés. Quando está morto, os pés ficam paralelos.

Deste pagode, seguimos para o Shwedagon Paya, com um brilho dourado no calor do dia. Depois, à medida que o sol lança os últimos raios, torna-se carmesim, ouro e laranja, e o grande diamante no cume lança um raio de luz que se reflete em tons brancos, vermelhos de sangue e verdes a todos os cantos da plataforma do templo. É o lugar mais sagrado para os budistas e todos desejam visitá-lo pelo menos uma vez na vida


Esta é a stupa do templo. (A stupa é um tipo de mausoléu, construído em forma de torre. Com o budismo evoluiu para uma repesentação arquitectónica do cosmos). Como se pode observar, tem a forma de um sino, e vê-se de qualquer ponto da cidade. A parte superior tem 13.153 placas de ouro, ao passo que a parte inferior tem apenas folha de ouro. O catavento do topo tem 1100 diamantes e 1383 pedras preciosas. No topo de tudo está uma esfera de ouro decorada com 4351 diamantes, com 1800 quilates. O topo da esfera tem um só diamante com 76 quilates.

Entrámos numa sala e ali deixámos os sapatos. Subimos num elevador panorâmico até à plataforma do templo.. Há uma espécie de ponte que liga o elevador à plataforma e de onde se tem uma vista deslumbrante da cidade. À volta da grande stupa, há inúmeras stupas mais pequenas, templos, altares e pequenos pavilhões.




Diz-se que esta grande árvore banyan cresceu a partir de um ramo da árvore original sob a qual Gautama Buddha teve a sua iluminação na Índia. Na maioria, as estátuas do Buda são de ouro.




Há voluntários/as que limpam o chão. Não tenho fotos, mas eu própria pedi uma vassoura e limpei durante um bocado.No entanto, isso não impede que se chegue ao fim com os pés imundos.

Ficámos no pagode até muito depois do pôr-do-sol (que se põe às cinco e vinte). Quando desci com a F, um pouco antes do grupo, entrei numa sala onde podia lavar os pés, mas a voluntária não me deixou fazê-lo. Ajoelhou-se ao pé de mim e lavou-me e enxugou-me os pés, indo buscar um banco para me sentar e calçar os sapatos. Comoveu-me este tratamento, motivado pelos meus cabelos brancos, e também pelo ar fatigado. Ficou radiante quando lhe dei uma gorgeta.
Dali fomos jantar a um restaurante e voltámos ao hotel para dormir e descansar, pois era preciso acordar às quatro da manhã... (continua)

P.S. - As minhas fotos não se comparam com as da Luisa...


VIAGEM A MYANMAR

Já me perguntaram várias vezes: porquê a Birmânia, lá do outro lado do mundo? Em Março deste ano, o meu amigo casal C. perguntou-me se queria ir com eles à Birmânia. O casal já viajou por quase toda a Ásia: Nepal, Tibete, China (2 vezes), Índia (4 vezes), Camboja, Laos, Tailândia, Vietnam; só lhes faltava a Birmânia. Iam inscrever-se e desafiaram-me. Pensei bastante, consultei as filhas, fiz contas, e acabei por decidir. Porque não? Porque sim!
A viagem é organizada por uma agência francesa e comecei a pensar que teria de dividir o quarto com uma francesa completamente desconhecida; não sabia se gostava de lavar os dentes, se tomava banho, se ressonava, se era sonâmbula ou paranoica, sei lá!  Decidi, então, desafiar a minha colega F a acompanhar-me e dei-lhe uns dias para decidir. Telefonou-me depois e disse que ia. Tratei da marcação dos lugares e esperámos até ao final de Outubro. A melhor altura para visitar o país é de Novembro a Abril. O programa é tentador: 14 dias com pensão completa (excepto bebidas), viagem em autocarro climatizado, visita a sítios bonitos, hotéis de charme, passeios em pirogas a motor, etc., etc..
Partimos de Lisboa no dia 30 de Outubro, num voo da Air France, em direcção a Paris. Chegámos já de noite e depois de percorrermos imensos corredores, conseguimos chegar à paragem da navette que nos transportou ao hotel, onde passámos a noite. No dia seguinte voltámos de navette para o aeroporto, desta vez para o terminal 1, do aeroporto Charles de Gaulle. Viajámos na Thai, uma das melhores companhias aéreas no mundo.
                                                    Foto retirada da Net
Cada lugar tem um ecran de televisão e são-nos oferecidos auscultadores para ouvirmos à vontade, sem incomodar os vizinhos, fornecem uma almofada e uma manta, bebidas, snacks, há escolha entre dois pratos da refeição, e as hospedeiras são super simpáticas. A viagem tem a duração de doze horas entre Paris e Bangkok.
O aeroporto de Bangkok é lindo, todo enfeitado com orquídeas e cheio de passadeiras para evitar cansaço. Tínhamos pouco tempo para a ligação a Yangon (capital da Birmânia) e não nos detivemos para admirar bem o ambiente. A ligação a Yangon demorou cerca de uma hora. E assim chegámos a Myanmar. (continua)

O MEU CASAMENTO COM O ZÉ - 3

(Regressada de uma viagem de duas semanas a Myanmar - Birmânia ou Burma - depois de pôr os sonos em dia, e passados os efeitos do jet lag, vou contar o que falta deste casamento que durou 40 anos...)


Passámos mais dois dias em Nova Lisboa e seguimos para Sá da Bandeira, instalados no Grande Hotel da Huíla. Demos grandes passeios pelos arredores, que são lindos, e assim gozámos a nossa lua de mel.
O regresso a Nova Lisboa foi deveras tormentoso. Chovia imenso e o carro, um BMW emprestado pelo padrinho de casamento do Zé, era muito baixo, razão por que, a certa altura, não andava mais. Debaixo de chuva, o Zé viu-se na necessidade de tirar uma chapa que havia debaixo do motor e acumulava lama, o que impedia a progressão. Dei-lhe um impermeável de plástico, às bolinhas azuis, que ele estendeu no chão para se meter debaixo do carro e desaparafusar a dita chapa. Feito isto, e deixado o impermeável na berma (!), seguimos viagem por uma estrada em construção, debaixo de um dilúvio, e com o coração nas mãos, com medo de nos atolarmos ou de partirmos qualquer peça do carro...
Chegámos a Nova Lisboa já de noite. Foi o tempo de pôr as malas no quarto, tomar um banho, e seguir para a sala de jantar, onde se encontravam os restantes professores. A reunião não teve história, até ao dia em que devíamos regressar. O carro, que tinha estado parado, começou a andar, engasgou-se e recusou andar mais. Felizmente, havia uma oficina muito perto e foram buscar o veículo para o arranjar.
Andámos a passear a pé por Nova Lisboa e fomos buscar o carro às cinco horas. Partimos em direcção à Cela, e passados uns cinquenta quilómetros, já a escurecer, tive de gritar ao Zé porque ele não estava a ver uma brigada de trânsito, parada na berma, a mandar estacionar. O polícia teve de dar um salto para o lado e dirigiu-se, com o ar imponente da autoridade que esteve quase a ser atropelada, para o lado do Zé, pedindo os documentos, com voz importante. Assim que começou a ver, à luz da lanterna, exclamou: "Olha! É da minha terra! É meu patrício!" Quem havia de dizer que, ali, no meio de uma estrada, à luz de uma lanterna, o Zé e o  polícia tinham nascido na mesma terra do norte de Portugal. Depois de uma grande conversa entre os dois, seguimos viagem e chegámos à Cela onde, sem qualquer marcação, arranjámos quarto no hotel que não o tinha guardado no dia do nosso casdamento.
No dia seguinte, o carro apresentou-se com pouca vontade de andar e teve de voltar a uma oficina, para seguirmos para Novo Redondo, onde chegámos perto da hora do almoço. Os meus Pais tinham levado com eles dois dos meus enteados e tivemos de preparar as coisas para, ainda com dia, seguirmos com eles para Benguela. O carro chegou ao Quicombo e negou-se, definitivamente, a andar. Como passou uma camioneta, pedi boleia e fui com a pequena até casa dos meus Pais. Pouco depois chegavam o Zé e o filho, pois um dos meus irmãos ia a passar e levou-os. Depois do jantar, o meu Pai chamou um taxi e lá nos acomodámos para seguir. O Zé sentou-se à frente, e eu atrás com os pequenos. A meio do caminho, embrenhados em grande conversa, nem o motorista nem o Zé viram uma pedra enorme e o carro passou por cima, partindo não sei o quê. O que sei é que o carro só andava em primeira pois as outras mudanças não entravam. Quando chegámos à Catumbela era quase meia noite. Como os meus padrinhos tinham guardado o meu Mini, subimos o morro a pé pois o taxi não o podia fazer. Ao chegarmos lá acima, os meus padrinhos tinham acabado de chegar a casa, mas, para desilusão nossa, já tinham levado o carro para Benguela. Voltámos a descer e lá seguimos, sempre em primeira, até nossa casa. Ainda tive de fazer as camas dos pequenos, pois a amiga encarregada de o fazer se tinha esquecido. Deitámo-nos perto das duas da manhã. No dia seguinte começámos a nossa vida, e assim terminou uma lua de mel bastante agitada.

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