Chegámos à Pensão do Passarinho. Tinham um quarto, mas sem casa de banho. O quarto era razoável: cama de casal, guarda-fatos, mesas de cabeceira, uma cadeira, e um estrado para a mala. O Zé desceu com um empregado para trazerem as malas. Eu fiquei encostada à janela, a olhar lá para fora sem ver, a pensar que não era assim, num quarto como aquele, sem casa de banho, que tinha imaginado a minha noite de núpcias. Saí dos meus pensamentos ao ouvir um estrondo. Ao colocarem a mala no estrado, este desmanchou-se todo, feito em pedaços. O rapaz lá apanhou os bocados de madeira, desfazendo-se em desculpas e saíu. Eu estava quase a chorar. Precisava de ir ao quarto de banho e saí de lá enojada. A banheira estava cheia de cabelos, e a retrete... Era uma pensão de camionistas, não se esqueçam! Só me apetecia sair dali a correr, dormir no carro ou debaixo da ponte!
Quando regressei ao quarto, o Zé percebeu tudo. Abraçou-me e disse uma coisa que nunca mais esqueci e que só aumentou o amor que sempre tive por ele, e admiração que senti: "Vais deitar-te e viras-te para um lado, eu deito-me e viro-me para o outro lado, descansamos, e amanhã cedo saímos para Nova Lisboa."
E assim foi. Cada um virado para o seu lado, dormimos e, logo pela manhã, partimos para Nova Lisboa, onde tínhamos o hotel marcado, com o quarto à nossa espera, todas as mordomias a que tínhamos direito, e onde, finalmente, consumámos o casamento. (continua)