Poema

Nunca digas adeus,
Nem mesmo
Quando tudo parece já perdido.


Bem sei que vais partir
E a partida
Dói.
Mas não te digo adeus:
Dizer adeus é morrer.


Não!
Não te digo adeus.
Apenas abandono
A minha mão na tua
E digo,
Simplesmente,
Até Amanhã!

Não sei se terei coragem para escrever mais. Estive a pensar muito. Acho que escrever é uma espécie de catarse e por isso aqui estou. O meu Zé morreu no passado dia 15. Ao fim de 40 anos de casados voltei a ficar só. Procuro só recordar-me dos momentos bons e felizes que passámos juntos e que foram muitos. O Zé tinha defeitos mas tinha também grandes qualidades. Eu tenho muitos defeitos, mas éramos complementares e sabíamos, ou melhor, sentíamos o que o outro estava a pensar, mesmo sem palavras.
Vou parar por algum tempo. Não digo adeus, mas apenas até logo...

Diário da Ausência

Há quase quinze dias que o marido está internado no hospital com uma pneumonia. Deambulo pela casa vazia à procura de uma presença que não está lá. Vou todos os dias ao Hospital à espera de melhoras que tardam. Poucas vezes me olhou, porque lhe dão tranquilizantes por estar muito agitado. Limito-me a apertar-lhe a mão e a dizer-lhe baixinho que o amo e o quero de novo em nossa casa. O coração vai-se aguentando, mas os pulmões continuam a preocupar os médicos. E acaba a hora da visita e eu volto para a casa vazia, que só não está gelada porque ligo os aquecedores. Os telefonemas de parentes e amigos não param desde as oito da noite. Vão preenchendo as horas até me deitar.
Ontem, quando me dirigia ao autocarro, corri para não o perder, já que estava a dar a volta. Não sei como, vi-me ir pelo ar e estatelar-me no passeio, batendo violentamente o lado esquerdo contra o lancil. O motorista saiu do autocarro e foi ajudar-me a levantar. Também uma vizinha, que já estava no autocarro, saiu para me ajudar. Passado o primeiro embate, decidi continuar e lá fomos as duas a conversar. Fui visitar o meu "menino", que estava a dormir e nem me sentiu. Então começaram as dores. Já que estava no hospital, resolvi ir à urgência. Esperei bastante, mas fui bem atendida. E a radiografia mostrou que, felizmente, nada se partiu. "Proibida de correr atrás de autocarros. Vai ficar com dores durante algum tempo. Tomar um medicamento de 12 em 12 horas. Usar uma pomada para aliviar as dores". Meti-me num táxi e vim para casa. Curiosamente, senti-me melhor deitada para o lado esquerdo e não ao contrário.
Passei o dia em casa, o mais quieta possível. Amanhã, logo se verá. Permanente, só a dor da ausência.

Caminhando

Esta é a minha obra mais recente. Como já disse, adoro o pôr do sol.

Os meus caracóis

Sendo a única rapariga no meio de cinco rapazes, eu tinha uma grande inclinação para medir forças com eles. Tinha uma maneira especial de correr e por isso os batia em corrida, jogava futebol, trepava às árvores, e tinha sempre um dos joelhos em ferida. Quando curava um, esfolava o outro. Havia, no entanto, uma coisa a que não podia fugir: o meu cabelo. As meninas usavam o cabelo comprido, por altura dos ombros, e eu não fugia à regra. O pior eram os caracóis. A minha Mãe passava cerca de dez minutos, todas as manhãs, a fazer-me vinte caracóis, nos quais tinha grande orgulho. Não eram caracolinhos, mas vinte canudos. Para mim, era um martírio estar quieta à espera que ficassem todos prontos e que os dois da frente ficassem atados com laçarotes.
Um dia foi o barbeiro lá a casa para cortar o cabelo dos meus irmãos e eu fiquei por ali, a olhar cheia de inveja. Aproveitando que a Mãe estava distraída com a lida da casa, fui ter com ela e perguntei se também podia cortar o cabelo. Respondeu que sim, quase sem perceber o que eu estava a pedir. Radiante, fui ter com o barbeiro e, sem lhe dar tempo para pensar, expliquei: "A minha Mãe mandou cortar por aqui!" O "por aqui", acompanhado do gesto, era por cima das orelhas, mesmo à rapaz. E foi "por aqui"! Podem imaginar a cara da minha Mãe quando fui ter com ela, toda contente por não ter de fazer os canudos. Não teve coragem para me ralhar, pois tinha consentido, mas ficou tristíssima. O cabelo voltou a crescer e voltaram os canudos, mas, pelo menos durante algum tempo, eu andei radiante da vida...

Recordações VI

Alguém me ofereceu uma boneca em forma de coelha. As orelhas cairam pouco depois, e, pelos buraquinhos, podia ver que estava cheia de serradura. Não sei porquê, a serradura nunca caíu e a boneca nunca esvaziou. Tinha um vestido de chita às florinhas e dava pelo nome (óbvio) de Dona Coelha. Nas brincadeiras que eu tinha com o meu irmão mais novo ou com a prima Ana, a Dona Coelha era mãe de uma família numerosa de bonecos, uns de celuloide, outros de papel, outros ainda de pano, alguns bem maiores que a "mãe". E esta brincadeira durou uns anitos. A estrela da companhia era a Lili, uma boneca de papel que tinha muitos e variados vestidos, uns já impressos na folha em que foi comprada, e muitos, muitos por mim desenhados e pintados. As crianças de agora não têm bonecas de papel. Vinham numa folha A4, a boneca no centro, em trajes menores, e os vestidos, casacos e sapatos à volta, tudo com umas "pestanas", que se dobravam para dentro e se prendiam nos ombros e na cintura da boneca. Era divertido. Aliás, a Lili era o presente que a minha Mãe me ofereceu por ter passado no exame de admissão ao liceu com 15 valores, a nota mais alta de toda a Angola. (Modéstia à parte, sempre fui muito boa aluna). Depois, fui para casa de uns tios, para continuar os estudos, e a Dona Coelha e a família ficaram fechadas numa caixa de cartão e não mais tive tempo para brincar com elas...

De volta!

Não, não sou eu esse doente! É só para fazer sorrir... Aliás, fui muito bem tratada.
Na sexta feira, dia 25, dei entrada no hospital, como estava marcado. E à hora marcada já estava na sala de operações, deitada na mesa, enquanto me enfiavam uma agulha na veia do braço esquerdo e me colocavam um sem número de discos para se ver as sístoles e as diástoles. Até sorri, porque me parecia estar a fazer parte de uma cena do "Serviço de Urgência" ou do "Hospital Central". A anestesia foi local e, por isso, estava bastante alerta. Não vou entrar em pormenores, até porque não percebo nada de nada. Sei que o médico e o assistente trocavam palavras murmuradas, certamente para eu não perceber, que estava uma senhora do meu lado esquerdo a monitorizar os "piquinhos" para baixo e para cima no gráfico do coração, que havia uma enfermeiro encostado a um armário e mais duas moças, que presumo serem enfermeiras. Disseram que estava pronto, e as moças e o enfermeiro entraram em acção para me transferirem para uma cama que levaram para um recanto. Nessa altura, deixaram entrar a minha filha mais nova, para ver que eu estava inteira, e, depois de ela sair, deixaram entrar a mais velha e uma das minhas sobrinhas, que me foi prestar a sua solidariedade. Em seguida, o tal enfermeiro começou a fazer um penso e, para terminar, colocou-me um peso na perna, para eu não a mexer. E lá fui de charola, com a família atrás, para uma enfermaria. Só então soube que não tinha sido feito a angioplastia, porque, de um ângulo, a artéria parecia entupida a 5o% e, de outro, 70%. Na dúvida, não fizeram nada e marcaram-se uma cintigrafia para a segunda-feira seguinte, juntamente com a consulta do médico, mal este exame estivesse pronto. Passei uma noite má. Não gosto de dormir de barriga para o ar. O peso na perna direita não me deixava virá-la nem um pouco, e o braço esquerdo estava ligado ao soro e não o podia sequer dobrar. No sábado de manhã, mandaram-me tomar banho e tirar aquele penso que me apertava a perna. Vi, nessa altura, que parecia um rolo compressor... Fiquei à espera que me dessem alta, e pelo meio-dia, apareceu o médico assistente, que me passou a requisição da cintigrafia e lá fui eu, com a família, para casa. Tudo bem, pensei eu. Fiquei meia deitada, com os miminhos da família e assim passaram os dois dias até à cintigrafia. Não me custou muito, pois só me furaram as costas da mão direita para injectar os líquidos necessários ao exame. Dali, já com o exame, a filha mais velha e eu seguimos para o consultório. Não esperámos muito pela vez. O médico olhou para os resultados, explicou-nos onde era o entupimento por meio das imagens, e disse que se podia resolver a coisa com medicamentos. Saí de lá bastante aliviada. E aliviada passei a terça-feira.
Na quarta de manhã, estava eu no meu sossego a ver televisão e a bordar quando comecei a sentir o conhecido peso no peito, os maxilares a cerrar e o anel de ferro em volta do peito. "Não pode ser", pensei eu, mas, à cautela, deitei-me um pouco. A dor aumentava cada vez mais, e eu pus o comprimido debaixo da língua, acabando por o mastigar, para ver se passava. Entretanto, (para não me ralharem como da outra vez...) telefonei à filha. Veio o 112, mediram a tensão, o pulso, escreveram tudo, (os sintomas, os medicamentos que estou a tomar e não sei que mais) e disseram que me levavam para o Curry Cabral. Não, disse a filha, devem levá-la para Santa Marta. "Santa Marta não tem urgências, tem de ir para o Curry Cabral". E toca de me sentarem numa cadeira de rodas, amarraram-me pelo peito e pela cintura, julgo que para não me deixarem cair, quando a filha telefona ao médico. Que não, que não, ele já telefonava, mas nada de me levarem para o Curry Cabral. Lá me deitaram na cama, entregaram os exames, e disseram para eu assinar um papel a dizer que não queria ir para o Curry Cabral. Mais tarde, o médico telefonou. Tinha de estar no hospital às cinco e meia. E lá fomos. "Tive de repetir tudo o que sentira e como. E quando chegou o assistente voltei a contar. Decidiram, então fazer a angioplastia. Fiquei nos cuidados intensivos nessa noite e durante o dia seguinte. O médico foi ver-me por duas vezes, uma para me fazer um penso e colocar um peso enorme na perna direita (este era mais pesado e maior do que o primeiro), e a outra para me dar alta a partir das seis horas da tarde, com ordem para me sentarem numa poltrona a partir das duas horas, e me fazerem andar a partir das cinco. E assim se fez. Desta vez, tinha uma aparelho de medir a tensão no braço direito, o qual era automático. De tanto em tanto tempo trabalhava. Quando estava quase a adormecer, aquilo enchia, fazia uns barulhinhos, e esvaziava. Um mimo! Colocaram um stent na artéria descendente anterior e um kissing balloon (sic) na segunda diagonal. Perceberam? Eu não, que não sou médica, mas sei que me sinto melhor e que durmo muito bem.
Pelo interesse demonstrado, fico muito grata aos visitantes deste blog.
Qualquer dia volto às minhas recordações para "memória futura" dedicada aos meus netos. Até já! :-)))

Aconteceu mesmo! Aquilo que eu supunha só acontecer aos outros, aconteceu-me a mim. Os exames não me diziam nada: electrocardiograma e ecocardiograma são chinês para mim. De posse deles, fui visitar um cardiologista da família. A opinião dele era que devia fazer uma prova de esforço e um exame de 24 horas, mas, como tinha consulta marcada para outro cardiologista, o melhor era esperar para ver o que ele dizia. A minha odisseia com a marcação da consulta mostra bem com funciona este país. No bairro onde moro, e onde há uma clínica, só teria consulta no dia 3 de Março. Noutra clínica, perto de casa, só a 13 de Fevereiro, no Hospital da Luz, só a 29 de Fevereiro, em Santa Marta, só para as calendas. Acabei por telefonar para a clínica onde trabalha a médica que me ajudou. Sim, tinham cardiologista e para 21 de Janeiro. E assim ficou marcada a consulta. Nesse dia, lá fui eu, mais sossegada com o que dissera o familiar, munida dos exames já feitos e de alguns mais antigos. Fez-me uma prova de esforço e, ao fim de um minuto, as pernas estavam pesadas, não conseguia respirar e ardia-me o peito. O médico até me deu um comprimido para pôr debaixo da língua. No fim, as notícias: "a senhora deve ter uma ou mais veias entupidas, por isso vai fazer uma angiografia e, se estiver alguma veia entupida, fica logo dilatada. Vamos fazer amanhã?" - "Amanhã? Não, não pode ser." - "Então fica para sexta-feira", pegou no telefone, fez a marcação, escreveu num papel o que tenho de fazer e despediu-me com a promessa de que vou ficar bem, mas que é urgente tratar disto. Saí de lá como se tivesse levado um murro no estômago. Levava uma receita na mão, com ordem de tomar os medicamentos logo a seguir , mesmo na farmácia! Rebelde como sou, apanhei um táxi para a farmácia do bairro, e só os tomei quando cheguei a casa. Depois foi a saga de contar à família o que se passa, com incompreensões, ralhos e carinhos à mistura. E é assim: amanhã à tarde lá estarei no Hospital para fazer a angiografia e possível angioplastia. São uns palavrões tão grandes, não são? Só passo lá a noite e, no sábado, já estarei em casa para fazer a crónica! Ciao!

Medo

O medo apoderou-se de mim. Não sei o que os exames irão mostrar, mas também já me disseram que só um cateterismo pode descobrir coágulos ou outros entupimentos. O certo é que a tensão não desce dos 160-85, por mais repouso que faça. Não voltei a sentir dores, mas sim um grande cansaço e vontade de me atirar para o chão e ficar por ali, sem nada fazer. Sou parva em me assustar assim. O melhor é procurar esquecer que amanhã vou buscar o resultado dos exames. A vida continua, e, como dizia Pessoa, "o rio, bem ou mal, há-de chegar ao mar."

Acontece

Pensamos sempre que nunca nos vai acontecer, que só acontece aos outros, e, um dia, acontece mesmo connosco. Vem isto a propósito de ontem à tarde, quando estava sozinha em casa, me ter sentido mal. Lá vem uma isquémia, pensei. E fui fazer o que me foi aconselhado depois da primeira: deitar-me. Estava no computador, a trocar mensagens com uma filha. Não a quis assustar e desculpei-me, dizendo que tinha de ir fazer outra coisa. Deitei-me. A dor, desta vez, era muito forte. Levantei-me e fui à janela apanhar ar. O maxilar começou a prender e parecia ter o peso de uma tonelada no peito. Telefonei para um familiar, por sinal cardiologista. Ninguèm atendeu. Já em pânico, lembrei-me da neurologista do marido e telefonei para o consultório. A empregada da recepção disse que sim, que a doutora estava lá, mas a dar uma consulta. Que telefonasse mais tarde. Quase gritei: Estou a ter uma isquémia. A senhora percebeu, mandou-me esperar um pouco, pediu o número do telefone, que a doutora já me falava. Desliguei, agarrada ao telefone. A dor continuava, forte, forte. A médica telefonou. Perguntou-me o que tinha em casa. Só tenho o medicamento para a tensão. Tem aspirina 100? Não, mas tenho da outra. Tome o medicamento e metade de uma aspirina e telefone daqui por meia hora. Quase a gritar com a dor, fui tomar os medicamentos. Tinha medido a tensão. estava a 174 - 93.
Deitei-me outra vez. A dor foi diminuindo pouco a pouco, devagar, muito devagarinho. Meia hora depois, já estava com a respiração normal. Telefonei à médica a agradecer. "O que diz o seu cardiologista?" Não tenho. "E o seu médico de família?" Também não tenho, nunca tive. "Vou passar-lhe um medicamento para pôr debaixo da língua, quando isso acontecer, e vou pedir um electrocardiograma. Deixo na recepção". Mais uma vez, obrigada.
Não contactei com ninguém, nem disse nada ao marido, quando chegou. Fiz mal. Já mandei fazer uma chave para dar às filhas. E vou fazer os exames, para ver o que se passa com a "máquina".
Só à noite contei o que se tinha passado. Foi um susto grande. Já tive outras isquémias, mas foram rápidas. Esta foi uma espécie de aviso.

Novo Dia

Hoje, primeiro de Janeiro de 2008, desejo um ano cheio de saúde, de paz e amor. Quero ser melhor para melhor ajudar os outros. Tomo o exemplo da minha neta, ontem, ao ajudá-la a preparar um trabalho de ciências. (Eu só procurei imagens na internet, ela fez o resto). Dizia ela: "Quero fazer uma coisa para ter boa nota e, assim, a minha mãe fica contente comigo". Pois é, eu quero fazer uma coisa, muitas coisas, para que fiquem contentes comigo...

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