Não sei se terei coragem para escrever mais. Estive a pensar muito. Acho que escrever é uma espécie de catarse e por isso aqui estou. O meu Zé morreu no passado dia 15. Ao fim de 40 anos de casados voltei a ficar só. Procuro só recordar-me dos momentos bons e felizes que passámos juntos e que foram muitos. O Zé tinha defeitos mas tinha também grandes qualidades. Eu tenho muitos defeitos, mas éramos complementares e sabíamos, ou melhor, sentíamos o que o outro estava a pensar, mesmo sem palavras.
Vou parar por algum tempo. Não digo adeus, mas apenas até logo...

Diário da Ausência

Há quase quinze dias que o marido está internado no hospital com uma pneumonia. Deambulo pela casa vazia à procura de uma presença que não está lá. Vou todos os dias ao Hospital à espera de melhoras que tardam. Poucas vezes me olhou, porque lhe dão tranquilizantes por estar muito agitado. Limito-me a apertar-lhe a mão e a dizer-lhe baixinho que o amo e o quero de novo em nossa casa. O coração vai-se aguentando, mas os pulmões continuam a preocupar os médicos. E acaba a hora da visita e eu volto para a casa vazia, que só não está gelada porque ligo os aquecedores. Os telefonemas de parentes e amigos não param desde as oito da noite. Vão preenchendo as horas até me deitar.
Ontem, quando me dirigia ao autocarro, corri para não o perder, já que estava a dar a volta. Não sei como, vi-me ir pelo ar e estatelar-me no passeio, batendo violentamente o lado esquerdo contra o lancil. O motorista saiu do autocarro e foi ajudar-me a levantar. Também uma vizinha, que já estava no autocarro, saiu para me ajudar. Passado o primeiro embate, decidi continuar e lá fomos as duas a conversar. Fui visitar o meu "menino", que estava a dormir e nem me sentiu. Então começaram as dores. Já que estava no hospital, resolvi ir à urgência. Esperei bastante, mas fui bem atendida. E a radiografia mostrou que, felizmente, nada se partiu. "Proibida de correr atrás de autocarros. Vai ficar com dores durante algum tempo. Tomar um medicamento de 12 em 12 horas. Usar uma pomada para aliviar as dores". Meti-me num táxi e vim para casa. Curiosamente, senti-me melhor deitada para o lado esquerdo e não ao contrário.
Passei o dia em casa, o mais quieta possível. Amanhã, logo se verá. Permanente, só a dor da ausência.

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