Aconteceu mesmo! Aquilo que eu supunha só acontecer aos outros, aconteceu-me a mim. Os exames não me diziam nada: electrocardiograma e ecocardiograma são chinês para mim. De posse deles, fui visitar um cardiologista da família. A opinião dele era que devia fazer uma prova de esforço e um exame de 24 horas, mas, como tinha consulta marcada para outro cardiologista, o melhor era esperar para ver o que ele dizia. A minha odisseia com a marcação da consulta mostra bem com funciona este país. No bairro onde moro, e onde há uma clínica, só teria consulta no dia 3 de Março. Noutra clínica, perto de casa, só a 13 de Fevereiro, no Hospital da Luz, só a 29 de Fevereiro, em Santa Marta, só para as calendas. Acabei por telefonar para a clínica onde trabalha a médica que me ajudou. Sim, tinham cardiologista e para 21 de Janeiro. E assim ficou marcada a consulta. Nesse dia, lá fui eu, mais sossegada com o que dissera o familiar, munida dos exames já feitos e de alguns mais antigos. Fez-me uma prova de esforço e, ao fim de um minuto, as pernas estavam pesadas, não conseguia respirar e ardia-me o peito. O médico até me deu um comprimido para pôr debaixo da língua. No fim, as notícias: "a senhora deve ter uma ou mais veias entupidas, por isso vai fazer uma angiografia e, se estiver alguma veia entupida, fica logo dilatada. Vamos fazer amanhã?" - "Amanhã? Não, não pode ser." - "Então fica para sexta-feira", pegou no telefone, fez a marcação, escreveu num papel o que tenho de fazer e despediu-me com a promessa de que vou ficar bem, mas que é urgente tratar disto. Saí de lá como se tivesse levado um murro no estômago. Levava uma receita na mão, com ordem de tomar os medicamentos logo a seguir , mesmo na farmácia! Rebelde como sou, apanhei um táxi para a farmácia do bairro, e só os tomei quando cheguei a casa. Depois foi a saga de contar à família o que se passa, com incompreensões, ralhos e carinhos à mistura. E é assim: amanhã à tarde lá estarei no Hospital para fazer a angiografia e possível angioplastia. São uns palavrões tão grandes, não são? Só passo lá a noite e, no sábado, já estarei em casa para fazer a crónica! Ciao!

Medo

O medo apoderou-se de mim. Não sei o que os exames irão mostrar, mas também já me disseram que só um cateterismo pode descobrir coágulos ou outros entupimentos. O certo é que a tensão não desce dos 160-85, por mais repouso que faça. Não voltei a sentir dores, mas sim um grande cansaço e vontade de me atirar para o chão e ficar por ali, sem nada fazer. Sou parva em me assustar assim. O melhor é procurar esquecer que amanhã vou buscar o resultado dos exames. A vida continua, e, como dizia Pessoa, "o rio, bem ou mal, há-de chegar ao mar."

Acontece

Pensamos sempre que nunca nos vai acontecer, que só acontece aos outros, e, um dia, acontece mesmo connosco. Vem isto a propósito de ontem à tarde, quando estava sozinha em casa, me ter sentido mal. Lá vem uma isquémia, pensei. E fui fazer o que me foi aconselhado depois da primeira: deitar-me. Estava no computador, a trocar mensagens com uma filha. Não a quis assustar e desculpei-me, dizendo que tinha de ir fazer outra coisa. Deitei-me. A dor, desta vez, era muito forte. Levantei-me e fui à janela apanhar ar. O maxilar começou a prender e parecia ter o peso de uma tonelada no peito. Telefonei para um familiar, por sinal cardiologista. Ninguèm atendeu. Já em pânico, lembrei-me da neurologista do marido e telefonei para o consultório. A empregada da recepção disse que sim, que a doutora estava lá, mas a dar uma consulta. Que telefonasse mais tarde. Quase gritei: Estou a ter uma isquémia. A senhora percebeu, mandou-me esperar um pouco, pediu o número do telefone, que a doutora já me falava. Desliguei, agarrada ao telefone. A dor continuava, forte, forte. A médica telefonou. Perguntou-me o que tinha em casa. Só tenho o medicamento para a tensão. Tem aspirina 100? Não, mas tenho da outra. Tome o medicamento e metade de uma aspirina e telefone daqui por meia hora. Quase a gritar com a dor, fui tomar os medicamentos. Tinha medido a tensão. estava a 174 - 93.
Deitei-me outra vez. A dor foi diminuindo pouco a pouco, devagar, muito devagarinho. Meia hora depois, já estava com a respiração normal. Telefonei à médica a agradecer. "O que diz o seu cardiologista?" Não tenho. "E o seu médico de família?" Também não tenho, nunca tive. "Vou passar-lhe um medicamento para pôr debaixo da língua, quando isso acontecer, e vou pedir um electrocardiograma. Deixo na recepção". Mais uma vez, obrigada.
Não contactei com ninguém, nem disse nada ao marido, quando chegou. Fiz mal. Já mandei fazer uma chave para dar às filhas. E vou fazer os exames, para ver o que se passa com a "máquina".
Só à noite contei o que se tinha passado. Foi um susto grande. Já tive outras isquémias, mas foram rápidas. Esta foi uma espécie de aviso.

Novo Dia

Hoje, primeiro de Janeiro de 2008, desejo um ano cheio de saúde, de paz e amor. Quero ser melhor para melhor ajudar os outros. Tomo o exemplo da minha neta, ontem, ao ajudá-la a preparar um trabalho de ciências. (Eu só procurei imagens na internet, ela fez o resto). Dizia ela: "Quero fazer uma coisa para ter boa nota e, assim, a minha mãe fica contente comigo". Pois é, eu quero fazer uma coisa, muitas coisas, para que fiquem contentes comigo...

Visitas

Outros Sonhadores

Pesquisar